O período perinatal (perinatalidade) envolve os fenômenos que estão em torno do nascimento, como o planejamento familiar, as tentativas de gravidez, a gestação, o parto e o puerpério. Consideramos então o luto perinatal, quando há uma perda também neste período.
O teste positivo de gravidez anuncia uma nova possibilidade: tornar-se mãe. Que alegria para quem vem sonhando com este bebe há tempos! É inevitável não pensar em como serão os próximos meses com a barriga a crescer e com o bebê a mexer dentro dela. Além dos pensamentos em como será tê-lo nos braços, seu sorriso, seu choro, suas futuras “artes”. Tudo isso enche o coração de alegria e fortalece, desde muito cedo, o vínculo com a futura criança.
Porém, a vida às vezes nos reserva surpresas que nunca imaginaríamos passar. De repente, o sonho parece que vira um pesadelo e tudo aquilo que idealizamos, de um momento a outro, passa a ruir. A constatação médica de que o bebezinho, que tinha tudo para se desenvolver, “parou”, é terrível e de muito difícil aceitação.
Com certeza, trata-se de uma experiência traumática, pois não há como não se traumatizar com algo tão inesperado que nos invade, sem que possamos atribuir o menor sentido para essa experiência. Afinal, essa não é a ordem natural da vida, nenhum pai e nenhuma mãe imagina enterrar um filho, mesmo que esse enterro seja simbólico pela ausência de um corpo físico (no caso dos abortos em fases iniciais).
A vivência dos sentimentos de luto que toda essa experiência traz consigo é fundamental para a elaboração da mesma. É necessário sim chorar essa dor e se permitir expressar todas as revoltas que costumam aparecer em meio a esse processo. Para Freud o luto não deve ser tratado, ele faz parte da nossa existência, mas precisa ser vivido, elaborado para que assim não se torne um adoecimento, ou uma patologia.
Muitas vezes, o sentimento de culpa também pode vir associado à essa vivência, como se realmente pudesse ter sido possível evitar esse acontecimento. Dessa forma, pensamentos a respeito de não ter se resguardado tanto ou de poder ter feito algo diferente podem aparecer, como se um comportamento específico pudesse ter garantido (em fantasia) o bebê em casa.
Além disso, infelizmente, nossa sociedade ainda tem dificuldades em reconhecer esse tipo de luto, e frases muitas vezes que são ditas na intenção de consolo, acabam por abrir ainda mais essa ferida já exposta:” Melhor agora, que vocês nem se apegaram ao bebê!”, “Deus sabe o que faz, provavelmente, não viria saudável”,” Não tem problema, logo vocês engravidam de novo!”, e isto só atrapalha a vivência do luto.
Se você já passou por uma ou mais perdas gestacionais e deseja uma nova gestação, procure ajuda médica especializada para avaliar as possíveis causas, bem como o suporte psicológico tão essencial nesse momento, na elaboração dessa vivência, uma vez que possibilita-se a diminuição dessa dor e a busca de um sentido subjetivo para esse acontecimento.
Texto escrito: por Lívia Monseff
Psicóloga CRP 06/95246